Moradores do bairro de Tancredo Neves, em Salvador, denunciam que criminosos ligados ao Comando Vermelho (CV) estariam controlando o acesso à internet na região. Segundo relatos, apenas um provedor autorizado pela facção pode operar no local, enquanto outras empresas são impedidas de atuar, muitas vezes por meio de violência e intimidação.

A situação ganhou evidência nesta terça-feira (19), quando criminosos incendiaram equipamentos de provedores independentes, prejudicando milhares de moradores. O ato de vandalismo reforça um esquema que já foi apelidado pela população como “CVNET”, em referência ao domínio que o Comando Vermelho exerce sobre os serviços de telecomunicações.

Essa prática, semelhante à que ocorre em favelas do Rio de Janeiro, não é um caso isolado. Moradores de bairros como Nordeste de Amaralina e Cosme de Farias também relatam que o tráfico impõe regras sobre quais empresas podem fornecer internet, criando um verdadeiro monopólio criminoso.

Terror e censura digital

Além do prejuízo econômico para os provedores locais, a imposição do “CVNET” tem impactos diretos na vida dos moradores. O controle do acesso à internet se torna mais uma ferramenta de poder do crime organizado, permitindo que as facções censurem conteúdos, monitorem atividades online e até restrinjam informações que possam ameaçar seus interesses.

“Não podemos escolher o provedor que queremos. Ou aceitamos a internet que eles impõem, ou ficamos sem acesso”, lamenta um morador sob condição de anonimato. “Quem tenta contratar outra empresa sofre represálias.”

Omissão das autoridades

Enquanto os criminosos avançam no controle de serviços essenciais, moradores denunciam a inércia do poder público. Apesar das seguidas queixas, não há registro de ações efetivas por parte das autoridades para coibir essa prática, o que levanta questionamentos sobre a conivência de setores da segurança pública com a expansão do domínio territorial das facções.

Especialistas alertam que o monopólio criminoso da internet representa um risco não apenas para a segurança pública, mas também para a liberdade de expressão e o direito de acesso à informação. “O Estado está perdendo o controle sobre territórios inteiros, permitindo que facções decidam até mesmo quem pode ou não ter internet”, afirma um analista de segurança consultado pela nossa reportagem.

Até quando?

O crescimento do crime organizado em Salvador segue um padrão já visto em outras capitais, onde facções impõem regras à população e eliminam qualquer concorrência, seja no tráfico de drogas, no transporte clandestino ou, agora, na prestação de serviços de internet.

A pergunta que fica é: até quando o governo vai permitir que criminosos ditem as regras?

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