O futuro político do senador Angelo Coronel (PSD) se tornou um dos principais pontos de tensão nos bastidores da política baiana. A possibilidade de que Coronel migre para a oposição nas eleições de 2026 tem movimentado não apenas as articulações do próprio senador, mas também a cúpula do governo estadual, que estaria desenhando um “plano de retaliação” caso a mudança de lado se concretize.

Buscando garantir um espaço na chapa majoritária para disputar um novo mandato no Senado, Coronel tem feito acenos significativos à oposição, especialmente ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) e ao atual prefeito, Bruno Reis (União), com quem, segundo fontes, mantém reuniões periódicas, algumas ocorrendo semanalmente.
Esse movimento provocou alerta máximo entre lideranças governistas, que avaliam como reagir a uma possível debandada do senador. De acordo com informações de bastidores, já há um esboço de estratégia para minar politicamente não apenas Coronel, mas também sua família, que possui forte presença na política estadual.
A “retaliação” incluiria ações para enfraquecer as bases eleitorais dos filhos do senador: Diego Coronel, deputado federal, e Angelo Coronel Filho, deputado estadual, ambos com intenção de renovar os respectivos mandatos em 2026. A ideia seria avançar sobre os colégios eleitorais dos parlamentares, utilizando as estruturas políticas e institucionais do governo, bem como as entregas administrativas da gestão petista, para disputar espaço e neutralizar a influência da família Coronel no interior baiano.
A medida serviria como um recado claro: qualquer ruptura com o grupo governista terá consequências amplas, não só para Angelo Coronel, mas também para seus aliados mais próximos. O cálculo político do governo considera que o fortalecimento da presença petista nas prefeituras do interior pode contrabalançar a base construída ao longo dos anos pela família do senador.
Apesar de reconhecer a movimentação, Coronel preferiu adotar um discurso de cautela. No último mês, o senador comemorou o arrefecimento das discussões sobre a sucessão estadual: “Ainda bem que esfriou. Vamos pensar em política no próximo ano. Foi muito extemporâneo começar a tratar de um pleito que ainda estamos a quase 24 meses de acontecer”, declarou em entrevista recente.

Contudo, dentro do governo a percepção é clara: há um distanciamento crescente. Interlocutores relatam que Coronel tem se afastado dos principais líderes governistas. “Tem falado menos com Wagner, quase nada com Jerônimo [Rodrigues] e zero com Rui [Costa]”, revelou uma fonte ligada ao Palácio de Ondina.
O cenário revela um cabo de guerra entre a influência consolidada de Coronel no interior e a força política do governo estadual, que pretende usar a máquina pública e alianças regionais para desestimular uma eventual migração do senador para a oposição.
Enquanto as articulações seguem discretas, a crise silenciosa entre Coronel e o governo pode ser um dos fatores decisivos na definição do quadro eleitoral baiano para 2026.